Brasileiro quebra chave privada de carteira e recebe R$ 60 mil em Bitcoin
Foto: Freepik - Montagem: CriptoFacil
Imagine receber uma doação em Bitcoin (BTC), mas não conseguir acessá-la porque a chave privada da carteira está perdida para sempre. Foi esse o desafio que o cientista da computação Edilson Osório, um dos pioneiros de criptomoedas e blockchain no Brasil, planejou e conseguiu resolver esta semana.
Osório, que apresenta o programa Morning Cripto no YouTube e no streaming Kick, recebe uma doação de BTC de um usuário que assiste seu programa. Contudo, o dinheiro estava numa carteira da qual o usuário não tinha mais a chave privada, ou seja, os Bitcoins estavam praticamente perdidos.
Mas, estimulado pelo desafio, Osório utilizou sua expertise em criptografia para quebrar a chave privada e recuperar os BTC perdidos. O teste foi um sucesso e comprovado em uma generosa doação para Osório e para o Morning Cripto, conforme o próprio Edilson explicou ao CriptoFácil. Entenda como foi essa história.
Generosidade criptografada
De acordo com Osório, o usuário entrou em contato através de mensagem oferecendo uma doação generosa ao programa Morning Cripto. No entanto, o ato de retenção veio acompanhado de um desafio: quebrar a chave privada da carteira onde estavam os Bitcoins.
O valor total de 0,5 BTC, correspondente a um pouco mais de R$ 60.000, representava uma doação vultosa. Mas estava em uma carteira de qual usuário não sabia a senha. Portanto, o desafio era claro: se você conseguir encontrar uma chave, os BTC são seus.
“Acontece que ele já tinha dado os Bitcoins como perdidos. Então, conversando com a comunidade, eles recomendaram falar comigo. Quando ele veio falar, ele já disse que estava com esse problema e que estava disposto a doar toda a quantidade caso eu conseguisse acessar uma carteira. Aí o incentivo foi bom pra eu pegar o caso”, disse Osório.
Na verdade, não se trata de um processo fácil. Na maioria dos casos, perder uma chave privada de uma carteira significa a perda total e permanente dos BTC que lá estão. Mesmo um ataque de força brutal pode levar milênios para achar uma chave privada – e a palavra milênios aqui não é força de expressão, mas sim literal.
No entanto, os mais de 25 anos de experiência em cibersegurança e uma paixão por desvendar puzzles criptográficos levaram Osório a aceitar o desafio. Ele não fez a quebra da chave ao vivo, mas detalhou o processo em um texto chamado Generosidade Criptografada no seu perfil na rede Medium.
Etapas da quebra
De acordo com Edilson, o primeiro passo foi descobrir todas as informações possíveis sobre a carteira. Para isso, ele solicita vários dados ao usuário que possui o BTC, desde o endereço da carteira até o modelo da carteira que ele utilizou para gerar a chave.
Além disso, o processo foi facilitado pelo fato de que uma pessoa tinha anotado algumas palavras da senha perdida. Isso fez com que as chances de encontrar uma seed completa aumentassem. Lembrando que a seed é um conjunto de 12 ou 24 palavras que são a única forma de acessar uma carteira de criptomoedas.
Dessas palavras que o usuário anotou, três não estavam na lista de palavras do BIP39 – uma extensa lista que mostra todas as palavras possíveis para criar uma semente. Osório afirmou que isso provavelmente significa que uma pessoa anotou essas palavras erroneamente, ou se confundiu com outras.
Em seguida, o pesquisador utilizou recursos online e seu próprio arsenal de códigos antigos para criar um script em Python que pudesse acelerar o processo. Esse processo teve como foco três aspectos cruciais: o endereço de depósito dos fundos, a semente incompleta e o tipo de carteira de hardware utilizada (que no caso foi um Ledger).
As carteiras Ledger possuem um pequeno defeito em sua interface, fazendo com que algumas palavras se assemelhem e causem confusão aos usuários. Por isso, Osório se concentrou em parônimos que poderiam gerar confusão na interface do Ledger, identificando palavras potencialmente candidatas que poderiam auxiliar na economia de tempo significativas de processamento.
O desafio era hercúleo, já que as chances de encontrar a semente correta eram de mais de 8,5 bilhões de interações – especificamente 8.589.934.592. Mas Osório tinha confiança de que, com a identificação de parônimos promissores, seria possível reduzir alguns milhões de interações potenciais.
Encontrando o X
Com isso em mãos, ele executou o roteiro de busca que encontrou as palavras que poderiam se encaixar na semente. E apesar da tarefa aparentemente impossível, a busca se mostrou bem-sucedida e aos poucos o mapa do tesouro (ou do Bitcoin) apareceu.
“A emoção tomou conta quando os pedidos foram encontrados com sucesso, marcando o fim de um fim de semana intenso e o início de uma celebração merecida. Os scripts criados podem ser encontrados no meu github “, disse Osório.
Por fim, o pesquisador elencou seis dicas para os usuários que estão começando a utilizar criptomoedas terem ao gerar suas sementes. Essas dicas de segurança são valiosas e úteis para evitar a perda de seus Bitcoins ou qualquer outra criptomoeda:
- Anote sempre as palavras da sua semente em papel, preferencialmente em metal;
- Após configurar sua carteira de hardware, redefina-a e recupere a semente por inteiro para evitar situações como a descrita acima;
- Considere ter mais de uma carteira de hardware para contingências;
- Mantenha backups de sua seed em locais diferentes, pois uma única cópia não é suficiente;
- Lembre-se: “Nem suas chaves, nem suas moedas”. As exchanges não são bancárias, nem carteiras seguras, nem suas amigas;
- Pratique a autocustódia, uma ferramenta vital para preservar sua liberdade, autonomia e soberania financeira no mundo digital.
